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1 de jun. de 2010

Via do Sul e Via do Norte



"tudo na vida é uma questão de atitude
que temos diante das coisas, e não das próprias
coisas em si mesmas.



Eu tenho sempre a possibilidade de descobrir
a origem de um problema, ou escolher aumenta-lo de
tal maneira, que termino sem saber onde ele começou,
qual a sua dimensão, como pode afetar minha existência,
e como é capaz de me afastar das pessoas que antes amava."




Paulo Coelho

A história a seguir é contada pelo Sheikh Qalandar Shah,
no seu livro "Asrar-i-Khilwatia" (Segredos dos Solitários):
No lado oriental da Armenia existia um pequeno vilarejo
com duas ruas paralelas, chamadas respectivamente
Via do Sul e Via do Norte.

Um viajante, vindo de muito longe,
passeou pela Via do Sul, e logo resolveu visitar
a outra rua; entretanto, assim que chegou ali,
os comerciantes notaram que seus olhos estavam
cheios de lágrimas.

"Alguém deve ter morrido na via do Sul",
disse o açougueiro para o vendedor de tecidos.
"Veja como este pobre estranho,
que acaba de chegar dali, está chorando!"

Uma criança ouviu o comentário e,
como sabia que a morte era algo muito triste,
começou a chorar histericamente.
Pouco tempo depois, todas as crianças
daquela rua estavam chorando.

O viajante, assustado, resolveu partir imediatamente.
Jogou fora as cebolas que estava descascando para comer
- e esta era justamente a razão de ter os olhos
cheios de lágrimas - e sumiu...

As mães, entretanto, preocupadas pelo pranto das crianças,
logo foram procurar saber o que estava acontecendo,
e descobriram que o açougeiro, o vendedor de tecidos,
e - a esta altura - vários comerciantes estavam
preocupadíssimos com uma tragédia que ocorrera
na Via do Sul.

Logo os boatos começaram;
e como a cidade não tinha muitos habitantes,
em breve todos os que moravam nas duas ruas
sabiam que alguma coisa horrível havia acontecido.

Os adultos começaram a temer o pior;
mas preocupados com a dimensão da tragédia,
resolveram não perguntar nada,
a fim de não piorar a situação.

Um homem cego, que morava na Via do Sul
e não entendia o que estava acontecendo,
resolveu indagar:

"Por que tanta tristeza nesta cidade
que sempre foi um lugar tão feliz?"

"Algo muito grave aconteceu na Via do Norte",
respondeu um dos habitantes.
"As crianças choram, os homens estão
com a testa franzida, as mães pediram
para que seus filhos voltassem para casa,
e o único viajante que visitou esta cidade
em muitos anos, partiu com os olhos cheios de lágrimas.

Talvez a peste tenha chegado à outra rua."
Não foi necessário muito tempo para que
o rumor de uma doença mortal, desconhecida,
havia atingido cidade.

Como, entretanto, o choro havia começado
com a visita do viajante à Via do Sul,
ficou claro para os moradores da Via do Norte
que a peste tinha começado ali.

Antes que anoitecesse, os habitantes de ambas as ruas
já haviam abandonado suas casas,
e partiam em direção as montanhas do Leste.

Hoje, séculos depois, o antigo lugarejo
por onde passou um viajante descascando cebolas,
ainda continua deserto.

Não muito longe dali, surgiram duas aldeias,
chamadas Via do Leste e Via do Oeste.
Seus habitantes, descendentes dos antigos moradores
do vilarejo, ainda não se falam, já que o tempo
e as lendas se encarregaram de colocar uma grande
barreira de mêdo entre eles.

Comenta o Sheikh Qalandar Shah:

"tudo na vida é uma questão de atitude
que temos diante das coisas, e não das próprias
coisas em si mesmas.

Eu tenho sempre a possibilidade de descobrir
a origem de um problema, ou escolher aumenta-lo de
tal maneira, que termino sem saber onde ele começou,
qual a sua dimensão, como pode afetar minha existência,
e como é capaz de me afastar das pessoas que antes amava."

Paulo Coelho
www.paulocoelho.com.br

29 de abr. de 2010

Instante Sagrado



Senhor protegei as nossas dúvidas,
porque a Dúvida é uma maneira de rezar.

É ela que nos fazem crescer,
porque nos obriga a olhar sem medo
para as muitas respostas de uma mesma pergunta.
E para que isto seja possível,

Senhor protegei as nossas decisões,
porque a Decisão é uma maneira de rezar.

Dai-nos coragem para, depois da dúvida,
sermos capazes de escolher entre um caminho e o outro.
Que o nosso SIM seja sempre um SIM,
e o nosso NÃO seja sempre um NÃO.
Que uma vez escolhido o caminho,
jamais olhemos para trás,
nem deixemos que nossa alma seja roída
pelo remorso.
E para que isto seja possível,

Senhor protegei as nossas ações,
porque a Ação é uma maneira de rezar.

Fazei com que o pão nosso de cada dia seja fruto
do melhor que levamos dentro de nós mesmos.
Que possamos, através do trabalho e da Ação,
compartilhar um pouco do amor que recebemos.
E para que isto seja possível,

Senhor proteja os nossos sonhos,
porque o Sonho é uma maneira de rezar.

Fazei com que, independente de nossa idade
ou de nossa circunstância, sejamos capazes
de manter acesa no coração a chama sagrada
da esperança e da perseverança.
E para que isto seja possível,

Senhor dai-nos sempre entusiasmo,
porque o Entusiasmo é uma maneira de rezar.
É ele que nos liga aos Céus e a Terra,
aos homens e as crianças, e nos diz que
o desejo é importante, e merece o nosso esforço.
É ele que nos afirma que tudo é possível,
desde que estejamos totalmente comprometidos
com o que fazemos. E para que isto seja possível,

Senhor protegei-nos, porque a Vida
é a única maneira que temos
para manifestar o Teu milagre.

Que a terra continue transformando a semente em trigo,
que nós continuemos transmutando o trigo em pão.
E isto só é possível se tivermos Amor
– portanto, nunca nos deixe em solidão.

Dai-nos sempre a tua companhia,
e a companhia de homens e mulheres que tem dúvidas,
agem, sonham, se entusiasmam, e vivem como se cada
dia fosse totalmente dedicado a Tua glória.

Amém.

Excerto da crônica A Oração que Eu esqueci

[A oração que eu esqueci

Andando pelas ruas de São Paulo, recebi de um amigo
- Edinho Oliveira - um panfleto chamado “Instante Sagrado”.
Impresso a quatro cores, em excelente papel,
não identificava nenhuma igreja ou o culto,
apenas trazia uma oração escrita.

Qual foi minha surpresa ao ver que quem
assinava esta oração era – EU!
Ela havia sido publicada no início da década de 80,
na contracapa de um livro de poesia.
Não pensei que resistisse ao tempo,
nem que pudesse retornar as minhas mãos de maneira
tão misteriosa; mas, quando a reli,
não me envergonhei do que havia escrito.

Já que estava naquele panfleto,
e já que acredito em sinais, achei oportuno reproduzi-la aqui.
Espero estimular cada leitor a escrever sua própria prece,
pedindo para si e para os outros aquilo
que julga mais importante. Desta maneira,
colocamos uma vibração positiva em nosso coração,
e ela há de contagiar tudo que nos cerca. ]

20 de mar. de 2010

O Tao e o Amor



Os taoístas contam que, no início dos tempos,
o Espírito e a Matéria lutaram entre si um
combate mortal.

Finalmente o Espírito triunfou
– e a Matéria foi condenada a viver
para sempre no interior da Terra.

Antes que isto acontecesse, porém,
sua cabeça bateu no firmamento,
e reduziu a pedaços o céu estrelado.

A deusa Niuka saiu do mar, resplandecente
em sua armadura de fogo.
Fervendo as cores do arco-íris num caldeirão,
foi capaz de recolocar as estrelas em seu lugar,
mas não conseguiu encontrar dois pequenos cacos,
e o firmamento ficou incompleto.

Esta é a origem do amor:
duas almas sempre estão percorrendo a Terra,
em busca de sua Outra Parte.
Quando encontram, conseguem encaixar
os dois pedaços que faltam no céu,
e o Universo inteiro passa a fazer sentido para o casal.

Paulo Coelho
www.paulocoelho.com.br

20 de dez. de 2009

Uma História de Natal



Conta uma antiga e conhecida lenda,
cuja origem não pude verificar,
que uma semana antes do Natal o Arcanjo Miguel
pediu que seus anjos visitassem a Terra;
desejava saber se estava tudo pronto
para a celebração do nascimento de Jesus
Cristo.

Enviou-os em duplas,
sempre um anjo mais velho com um mais jovem,
de modo que pudesse ter uma opinião mais
completa do que ocorria na Cristandade.

Uma destas duplas foi designada para o Brasil,
e terminou chegando tarde da noite.
Como não tinham onde dormir, pediram
abrigo numa das grandes mansões
que podem ser vistas em certos lugares
do Rio de Janeiro.

O dono da casa, um nobre à beira da falência
(o que, aliás, acontece com muita gente
que habita aquela cidade), era católico fervoroso,
e logo reconheceu os enviados celestiais,
por suas auréolas douradas na cabeça.

Mas estava muito ocupado, preparando uma grande festa
para celebrar o Natal, e não queria desarrubar
a decoração quase terminada: pediu que fossem
dormir no porão.

Embora os cartões de Boas Festas sejam sempre
ilustrados com neve caindo, a data no Brasil cai
em pleno verão; no lugar para onde os anjos foram
enviados fazia um calor terrível, e o ar
- cheio de humidade - era quase irrespirável.

Deitaram-se em um piso duro, mas antes de começar
suas orações, o anjo mais velho notou uma rachadura
na parede.
Levantou-se, consertou-a usando os seus poderes divinos,
e voltou para prece noturna. Passaram a noite
como se estivessem no inferno, tão quente que estava.

Dormiram muito mal, mas precisavam cumprir
a missão que lhes fora confiada por Deus.
No dia seguinte, percorreram a grande cidade
- com seus 12 milhões de habitantes,
suas praias e montanhas, seus contrastes,
suas paisagens belas e seus recantos horríveis.

Preencheram relatórios, e quando a noite
tornou a cair, comecaram a viajar para o interior
do país. Mas, confundidos pela diferença de hora,
de novo se encontraram sem lugar para dormir.

Bateram à porta de uma casa humilde,
onde um casal veio atende-los.
Por não terem acesso às gravuras medievais
que retraram os mensageiros de Deus,
não reconheceram os dois peregrinos
- mas se estavam precisando de abrigo,
a casa era deles. Prepararam um jantar,
apresentaram o pequeno bebê recem-nascido,
e ofereceram o próprio quarto, pedindo
desculpas porque eram pobres,
o calor era grande, mas não tinham dinheiro
para comprar um aparelho de ar condicionado.

Quando acordaram no dia seguinte,
encontraram o casal banhado em lágrimas.
O único bem que possuiam, uma vaca que dava
leite, queijo, e sustento para a família,
havia aparecido morta no campo.

Despediram-se dos peregrinos, envergonhados
porque não podiam preparar um café da manhã.

Enquanto andavam pela estrada de barro,
o anjo mais jovem demostrou sua revolta:

- Não posso entender tal maneira de agir!
O primeiro homem tinha tudo o que precisava,
e ainda assim voce o ajudou.

Quanto a este pobre casal, que nos recebeu
tão bem, voce não fez nada para aliviar o sofrimento deles!
- As coisas não são o que parecem
- disse o anjo mais velho.
- Quando estavamos naquele porão horrível,
notei que havia muito ouro armazenado
na parede daquela mansão, deixado ali
por um antigo proprietário.

A rachadura estava expondo parte do tesouro,
e resolvi esconde-lo de novo, porque
o dono da casa não sabia ajudar quem precisava.

"Ontem, enquanto dormíamos na cama
que o casal nos oferecera, notei que
um terceiro convidado havia chegado:
o anjo da morte.
Fora enviado para levar a criança,
mas como eu o conheço há muitos anos,
convenci que tirasse a vida da vaca,
em seu lugar."

"Lembre-se do dia que está prestes
a ser comemorado: como as pessoas
dão muito valor à aparência,
ninguém quis receber Maria.
Mas os pastores a acolheram,
e por causa disso, tiveram a graça
de serem os primeiros a contemplar
o sorriso do Salvador do Mundo."



Paulo Coelho
www.paulocoelho.com.br

FELIZ NATAL

14 de set. de 2009

O Poder da Palavra



De todas as poderosas armas de destruição
que o homem foi capaz de inventar,
a mais terrível - e a mais covarde - é a palavra.

Punhais e armas de fogo deixam
vestígios de sangue.
Bombas abalam edifícios e ruas.
Venenos terminam sendo detectados.
Mas a palavra destruidora consegue
despertar o Mal sem deixar pistas.

Crianças são condicionadas durante anos pelos pais,
artistas são impiedosamente criticados,
mulheres são sistematicamente massacradas
por comentários de seus maridos,
fiéis são mantidos longe da religião
por aqueles que se julgam capazes
de interpretar a voz de Deus.

Procure ver se você está utilizando esta arma.
Procure ver se estão utilizando esta arma em você.
E não permita nenhuma destas duas coisas.


Paulo Coelho
Fragmentos de um diário inexistente - VII

29 de abr. de 2009

Qual o melhor caminho



Qual o melhor caminho

Quando perguntaram ao abade Antonio se o caminho do
sacrifício levava ao céu, este respondeu:

- Existem dois caminhos de sacrifício.
O primeiro é o do homem que mortifica a carne,
faz penitência, porque acha que estamos condenados.
Este homem sente-se culpado, e julga-se indigno de viver feliz.
Neste caso, ele não chega a lugar
porque Deus não habita a culpa.

" O segundo é o do homem que, embora sabendo
que o mundo não é perfeito como todos queríamos que fosse,
reza, faz penitência, oferece seu tempo e seu trabalho para
melhorar o ambiente ao seu redor.
Neste caso, a Presença Divina o ajuda o tempo todo,
e ele consegue resultados no Céu".

Paulo Coelho
em Sempre Podemos ver diferente
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