12 de set. de 2009
Hereditariedade Moral (2)
(Richard Simonetti)
Por isso os filhos revelam suas próprias características,
eminentemente pessoais, sua maneira de ser,
não raro em oposição ao lugar em que vivem
e aos estímulos que recebem.
A melhor demonstração disso está no próprio lar.
Numa família de cinco filhos, com os mesmos pais,
o mesmo ambiente, os mesmos cuidados,
sob as mesmas condições, são todos diferentes entre si,
como os dedos da mão.
Há um carinhoso; outro que é muito agressivo.
Há o que não gosta de mentir; outro que se destaca
por ser amigo do engodo.
Há o fascinado por sons estridentes;
outro que prefere música suave.
Há o ávido por aventuras amorosas; outro extremamente
comedido no relacionamento afetivo.
Entre pais e filhos, a mesma antítese.
Exemplo marcante: Marco Aurélio e Cômodo.
Marco Aurélio, o mais virtuoso e sábio dos imperadores romanos,
imortalizado por seu amor à filosofia e às letras.
Cômodo, seu filho, teria passado anônimo pela História,
não fora o lamentável destaque para sua crueldade e devassidão.
A moral, portanto é a carteira de identidade do Espírito,
dando-nos conta de que ele é filho de si mesmo,
de seus patrimônios íntimos, de suas experiências pretéritas,
revelando-nos o estágio de evolução em que se encontra.
Noutro dia, referindo-se a uma família onde pais e filhos
têm comportamento imoral, sempre dispostos a lesar
o semelhante, um amigo comentava:
— É tudo farinha do mesmo saco.
Realmente, isto pode acontecer, não por herança moral
ou mera influência ambiente, mas por afinidade.
Uma família de bandidos é constituída
por Espíritos que tem essa tendência.
Uma família de gente honesta e digna
integra Espíritos do mesmo porte.
Há, ainda, a “ovelha negra”, um filho degenerado,
de comportamento inconsequente e vicioso,
no seio de uma família ajustada.
Espírito atrasado que foi acolhido
com o propósito de ser ajudado em seu aprendizado.
O inverso também acontece: uma “ovelha branca” entre marginais.
Espírito evoluído numa tarefa sacrificial em favor dos familiares.
Algo semelhante ocorre em relação à vocação,
ponta visível de nosso universo íntimo,
sem subordinação a fatores hereditários ou ambientes.
Desde a mais tenra infância a criança revela tendências
e habilidades relacionadas com determinada atividade que,
não raro, surpreendem os adultos.
Se houvesse uma escola para os pais uma disciplina
seria indispensável: como ajudar os filhos a seguir
suas inclinações, no indispensável casamento entre
vocação e profissão.
Quando isto não ocorre, temos verdadeiros desastres:
Maus médicos que seriam excelentes fazendeiros.
Maus advogados que seriam ótimos músicos.
Maus administradores que se dariam bem melhor como operários.
Diz Gibran Khalil Gibran, em “O Profeta”:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da Vida por si mesma.
Eles vem através de vós mas não são de vós.
E embora convivam convosco, não vos pertencem.
Jesus diz algo semelhante no famoso diálogo
com Nicodemos, quando proclama:
O Espírito sopra onde quer; tu lhe ouves a voz,
mas ignoras donde ele vem e para onde vai...
Os dois textos aplicam-se à concepção reencarnacionista,
dando-nos conta de que os filhos trazem
suas próprias aptidões e senso moral.
Podemos e devemos auxiliá-los a desenvolver
para o Bem esses valores.
Para isso estão juntos de nós.
Consideremos, contudo, que chegará o momento
em que seguirão seus caminhos.
Então, aprenderão com seus próprios erros
e crescerão com seus próprios acertos.
Richard Simonetti
do Livro Quem tem medo dos Espíritos?
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